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A crise financeira no Brasil

A crise financeira iniciada nos Estados Unidos se alastra por todos os países. O que começou com uma crise hipotecária restrita ao mercado imobiliário norte-americano, hoje atinge os principais mercados financeiros do mundo e a produção de bens e serviços, causando a retração do crédito, diminuição de consumo, queda na produção e desemprego, sem falar na falência de seguradoras e bancos. O Brasil não fugiu a regra, tendo sua economia afetada pela crise, que atingiu as exportações, os preços das commodities e surgiu algumas dificuldades no setor de bens e serviços. Mas mesmo assim a economia brasileira sofreu um impacto menor, uma vez que suas instituições financeiras se mantiveram intactas, além de outros fatores como: o Brasil não ter adquirido títulos do mercado imobiliário dos EUA, a tradição do Banco Central de estabelecer juros altos e a dificuldade de se obter créditos dos bancos brasileiros.
“Geograficamente, o Brasil não está no olho do furacão como os EUA, por isso nossa economia não foi tão afetada”, afirma o professor doutor Elton Eustáquio Casagrande, chefe do Departamento de Economia da Unesp Araraquara. Porém, o professor diz que pelo fato dos americanos serem consumidores, importadores dos produtos brasileiros, essa crise acabou chegando ao Brasil, pelo fato de ter diminuído o poder de consumo dos cidadãos americanos. Essa baixa demanda faz com que o preço das commodities caia, gerando queda vertiginosa na produção e, conseqüentemente, causando possível desemprego. Entretanto os efeitos podem ser menores, isso vai depender se os brasileiros continuarem a gastar mais. Casagrande propõe como solução que as empresas nacionais revertam sua produção direcionada ao comércio exterior em produção para o mercado interno.
Para que isso ocorra, o Governo não deve limitar sua ação anti-crise só injetando dinheiro nos bancos para que aumentem as possibilidades de créditos para os agentes econômicos. Porque os bancos dificultam os empréstimos, devido ao medo da inadimplência. E os indivíduos evitam contrair mais empréstimos porque podem não conseguir pagar suas dívidas. Assim, as pessoas deixam de consumir, não fazendo gastos e evitando empréstimos. Por fim, o mercado desacelera, a economia perde seu ritmo e a crise se acentua. Portanto, devem ser tomadas outras medidas além das que já foram tomadas. Segundo a professora doutora Luciana Togeiro de Almeida, vice-chefe do Departamento de Economia da Unesp Araraquara, “Há a necessidade de redução imediata da alíquota dos impostos de renda para o ano que vem; aumentar a isenção tributária para produtos a mais de cesta básica e permitir o maior desconto de imposto de renda e outras despesas”.
O agente autônomo de investimentos, Igor Telésforo Maleres Branco, acredita também que poderiam ser tomadas outras medidas. Ele acha que foi um erro do Banco Central manter a taxa de juros elevada, onde poderiam dar um corte muito pequeno de 0,1%. “Enquanto os BCs de outros países fizeram esse corte, o BC brasileiro manteve a taxa de juros básica da economia brasileira”, diz. Isso foi feito para evitar uma fuga maior de capitais, porque quando o governo paga uma taxa de juros mais elevada nos seus títulos, atrai capital interno para investir nestes títulos. Entretanto com um pequeno corte, a saída do capital seria do tesouro para a renda variável ou com a finalidade de incentivar o crescimento do mercado, pois com a taxa de juros elevada as pessoas ao invés de abrirem uma nova fábrica, uma empresa ou um comércio, elas investem simplesmente em títulos do governo. E agindo assim, não estariam estimulando a economia.
Em contrapartida, o Secretário do Desenvolvimento Econômico de Araraquara, Alexandre Kaopanakis, diz que esta crise não está necessariamente instalada no Brasil. Apesar dos produtores de laranja estarem sofrendo dificuldades em se obter crédito, Araraquara está em pleno desenvolvimento econômico. “Não tem na história recente da nossa cidade um período de crescimento sustentado como este agora”, afirma Kaopanakis. Ele ainda diz que a estrutura econômica de Araraquara está dando suporte para enfrentar esse quadro de crise. E que a falta de clareza dessa situação impossibilita a prefeitura de tomar medidas imediatas. Com relação às medidas tomadas pelo Governo Federal, Kaopanakis acredita que são coerentes e eficazes. “É claro que a crise surtirá efeitos e que medidas deverão ser tomadas. Mas qualquer antecipação, além dessas que estão sendo feitas, como abertura de novas linhas de crédito, não se justifica. É alarmismo”, diz.

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